29 dezembro 2011

Anantha-he, anantha-he!

Na Índia em todo final do mês de Janeiro, milhares de peregrinos se dirigem a cidade de Nova Délhi, capital do país, onde em 30 de Janeiro de 1948 foi assassinado o líder hindu Mahatma Gandhi, estes peregrinos se dirigem a uma laje de mármore negro, que marca o local do assassinato de Gandhi, levando flores, sobretudo pétalas de rosas. Esta multidão de homens, mulheres e crianças, reverenciam o grande líder com os adultos saudando: “Mahatma Gandhi”, e as crianças respondendo: “Anantha-he, anantha-he”, isto é, “Para sempre, para sempre”.
Gandhi era um pacifista, adepto da não violência, e lutava não só pela independência da Índia, mas pela união dos hindus e mulçumanos, bem como pelo fim do regime de casta que perdura na sociedade indiana.
Gandhi, falava que não possuía mensagem, sua mensagem era seu exemplo de vida, e dizia:
"Tudo o que eu faço é na busca de Deus. Anseio por ver a Deus face a face. O Deus que eu conheço se chama Verdade".
Mirando no exemplo de Gandhi, que viveu entre os mais humildes e morreu na pobreza, desejamos que nossos mandantes sejam tocados pelo exemplo de Gandhi, e trabalhem pelo bem comum da população e não em proveito próprio.
“Há riqueza bastante no mundo para as necessidades do homem, mas não para a sua ambição.”
Mahatma Gandhi

19 dezembro 2011

Você tem cultura?

No artigo “Você Tem Cultura?” publicado em 1981, mas que continua atualizado, o antropólogo Roberto da Matta destaca o papel da cultura na organização das condutas e dos fenômenos coletivos e nos propõe uma reflexão sobre o significado da palavra “Cultura” em nossa sociedade, que ainda hoje carrega um viés etnocentrista.
Para isso, Roberto da Matta chama atenção para um dos conceitos empregados na palavra cultura que é o sentido de sofisticação, classificando pessoas ou grupos com culturas mais ou menos “sofisticadas”. Usando a palavra cultura de forma discriminatória contra grupos ou pessoas, como se cultura fosse o volume de “leitura”, o controle de informações ou mesmo sendo confundido com “inteligência”. Da Matta lembra que a palavra “personalidade”, também é utilizada em vários sentidos. Em um deles, na psicologia, como traços que caracterizam os seres humanos. No dia-a-dia como um aspecto desejável e invejável de uma pessoa, quando falamos, “fulano tem personalidade”, onde algumas pessoas teriam personalidade e outras não. Mas a verdade, é que todos nós temos personalidade, assim como todos nós temos cultura.
Ele chama a atenção para o fato de que para a antropologia, cultura é a maneira de viver de um grupo ou pessoa, que permite que haja a interação entre o grupo. Isso nos leva a compreender que não há homem sem cultura e que ela pode estabelecer comparações entre os grupos, sem a sua hierarquização.  Isso porque existem gêneros de cultura que podem ser associados a certos grupos sociais. O problema segundo o autor, é que sempre classificamos hierarquicamente as formas de comportamento e pensamentos diferentes dos nossos de forma depreciativa.
Para o autor, o conhecimento do que é cultura pode nos ajudar a compreender as diferença tanto entre as pessoas, como entre os grupos. Não se esquecendo que existem potencialidades que se destacam e nos permitem enxergar essas diferenças. O desenvolvimento ou não dessa potencialidade não indica que uma cultura seja mais evoluída que a outra. O que isso mostra é o potencial que cada cultura tem. Ele cita como exemplo sociedades indígenas, que diferentemente de nós, tem o respeito pela vida.  Nós, até temos a preocupação ambiental, mas sem o devido respeito pelas plantas, rios, mares e animais. A cultura como conceito nos mostra que não há homens sem cultura.
A cultura nos permite sim, as comparações, mas como iguais, sem estabelecer hierarquias, onde não existam sociedades inferiores ou superiores. Da Matta explica que mesmo diante de culturas que se apresentam para nós de forma irracional, cruel ou pervertida, devemos compreendê-las como seres humanos, mesmo que seja para evitá-las, já que viver em um universo marcado demarcado pela cultura faz parte do ser humano.
Assim, a cultura nos permite manifestar melhor nossas diferenças e recuperar a nossa humanidade, em nós e nos outros. Isso é necessário para que possamos encontrar caminhos para os pobres, marginais e oprimidos. E para isso, precisamos estar abertos para as diversas formas e configurações sociais que a cultura nos apresenta. Da Matta nos propõe um exercício antropológico que  nos leve a compreensão de que a própria negação da existência da cultura no outro é um modo de agir cultural. Este modo de agir deve ser revisto  e quem sabe modificado para entendermos todas as pessoas têm sua cultura e  que todas as culturas se equivalem.
Fonte: Da Matta, Roberto, Você tem cultura?Jornal da Embratel, RJ, 1981.
Roberto Da Matta - pesquisador e professor de Antropologia Social do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista. Tem inúmeros artigos publicados em revistas especializadas nacionais e estrangeiras. Foi professor visitante na Universidade de Winsconsin, Madison (Estados Unidos) e na Universidade de Cambridge (Inglaterra).