17 novembro 2011

Olhar estrangeiro 2

         Neste mês foi lançado nos Estados Unidos o livro de memórias da ex-secretária de Estado Norte-americana durante o governo George Bush, Condoleezza Rice. Entre as várias passagens do livro, ela relata a impressão que teve do nosso país quando o visitou em 2005, além de declarar amor pela Bahia, ela fez a seguinte colocação:
“Durante a visita me surpreendi com a divisão racial no Brasil. Os brasileiros sempre sustentaram que não tem problema racial. Pareceu-me que nos serviços braçais ficam os africanos (com pele escura); nos serviços, os mulatos (bi raciais); e os funcionários do governo têm ascendência europeia/portuguesa. O Brasil foi o país (que visitei) mais parecido com os EUA na sua composição étnica, mas parece ter tirado pouco proveito da revolução pelos direitos civis que mudou a face da política e da sociedade americana”
Apesar da nossa tão propalada “democracia racial”, o racismo na sociedade brasileira pode ser visto por qualquer pessoa que visite o nosso país, como foi o caso de Condoleezza. Nos Estados Unidos para que houvesse o fim da escravatura houve uma guerra civil dos estados do sul contra os estados do norte, com a vitória dos estados nortistas a escravatura foi abolida, mas os negros ainda continuavam segregados e sem direitos civis. Rosa Parks em 1955 ao se recusar a dar lugar a um passageiro branco em um ônibus no estado do Alabama, no sul dos Estados Unidos, deu início a uma revolução pelos direitos civis para os negros, que acabou gerando impactos profundos na sociedade norte-americana. No Brasil a abolição da escravatura se deu através da assinatura da lei áurea, após anos de luta e campanha de grupos abolicionistas, sendo o Brasil um dos últimos países do mundo a abolir este crime contra a humanidade.
          Infelizmente tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, o fim da escravidão não veio acompanhado de políticas que trabalhassem a integração do negro a sociedade, estas políticas nos Estados Unidos só começaram na metade do século passado, com as chamadas “ações afirmativas” que visavam inserir o negro na sociedade estadunidense. As “ações afirmativas” são medidas pontuais que surgem em determinadas sociedades com o objetivo de reparar uma determinada situação histórica de discriminação. A discriminação vigente nessas sociedades tem um impacto direto nas oportunidades materiais dos indivíduos que a sofrem. No Brasil uma das ferramentas mais conhecida, e criticada, das “ações afirmativas” que começaram no Brasil somente na ultima década do século XX, é o processo de reserva de vagas (cotas) nas universidades publicas, que visam dar aos negros a oportunidade de acesso ao ensino superior. Apesar de toda resistência de certos setores da sociedade, é indispensável fomentar estas ações afirmativas, não somente para os negros como bem para outros grupos minoritários.
          A situação persistente de iniquidade alimenta a construção de vulnerabilidade e de acúmulo de desvantagens que mantém os negros (pretos e pardos) e outros grupos minoritários em situação de pobreza crônica, contribuindo para a banalização das desigualdades e da invisibilidade do outro como ser humano.
Referências:
RIBEIRO A.P.A, GONÇALVES M.A.R, Questões étnicas e de gêneros – Volume único , Fundação CECIERJ, 2011
CONDOLEEZZA, RICE, “No Higher Honor: A memoir of my years in Washington”, Crown Publishing Group – 2011.

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